domingo, 29 de novembro de 2009

No final, só sobrou a mãe.

Sexta-feira, uma hora da manhã, Pronto Socorro Central. Corredores cheios de almas aflitas, mas uma delas se sobressai: uma jovem.
Sentada numa cadeira de rodas de cabeça baixa, ela passa sob o olhar curioso dos pacientes que aguardam atendimento. O enfermeiro a deixa num canto do corredor e ela, como se já não tivesse alma, fica ali parada como se a vida já não habitasse em seu corpo. E de repente, um líquido cristalino escorre pela cadeira, ela já não tem controle de sua bexiga. O fato atrai mais olhares dos que ali estão e ouvem-se comentários aqui e ali dos demais.
Então, de longe com um olhar cansado, aparece uma mulher que avista sua filha. Ela se aproxima da jovem, pensando qual erro cometera com sua menina. Ao parar a sua frente, a mãe a fita por alguns segundos, um olhar carregado de compaixão, dor e raiva.
- O que você fez? – pergunta com tom ríspido enquanto tenta levantar a cabeça da filha.
Não há resposta, não há gemido, não há murmúrio da parte da menina.
- O que você fez? – insiste a mãe num tom baixo, aflito sabendo que a filha não a responderá. – Com quem você estava?
Mais uma vez, ausência de resposta e ao que se aparentava, ausência de vida.
O que teria acontecido com a jovem? Fora encontrada desmaiada no meio da rua, sozinha e bêbeda. Os amigos deixaram-na sozinha. Foram-se todos. Tudo o que lhe restara fora sua velha mãe para lhe dar banho, lhe por na cama e pela manhã, dar-lhe um remédio para dor de cabeça. Seus amigos não lavariam sua calça fedendo a urina e nem dariam banho nela. Provavelmente, eles fariam chacota com sua situação no dia seguinte.
A mãe a levou embora a passos lentos para cuidar dela, pois no final, tudo o que lhe restou foi sua mãe.

As lições de 2012

O filme 2012 não é só uma grande produção, repleta de efeitos especiais que anuncia, em alto e bom som, um provável fim do mundo, mas é também um filme que nos faz refletir sobre nossa “humanidade”.
Catástrofes e predições maias a parte, 2012 fala sobre algumas questões importantes. Uma das mais importantes é a seguinte: que ainda há uma esperança para a humanidade.
Mesmo com todo os alertas, podemos mudar o rumo para onde dizem que vamos. Ainda há uma luz no final daquele túnel terrível que pregam ter a nossa frente. Mas mesmo assim, mesmo com o provável fim de tudo que conhecemos, seguimos nesse desenfreado individualismo besta e esse sentimento de poder em relação a tudo.
Durante anos, os americanos pensarão que estavam seguros em seu território. 11 de setembro de 2001 provou que eles estavam errados. Pensamos que nunca teríamos uma crise econômica como a de 1929, bem estávamos certos, a crise foi pior. Pensamos que controlávamos a natureza, mas ela se mostrou quem está no controle.
Mesmo tendo tantos avisos e alertas, nós continuamos nessa tortuosa estrada que nos levará a ruína e nós sabemos disso, o que fazemos? Nada!
É preciso mudar e a mudança não vem e nossos governantes. Quando cada um de nós mudarmos individualmente e tomarmos consciência de que não somos a última trakinas meio a meio do pacote, algo enfim mudará. Quando assumirmos a responsabilidade por todos nossos atos, talvez não tenhamos que esperar um final tão trágico quanto o do filme.