domingo, 29 de novembro de 2009

No final, só sobrou a mãe.

Sexta-feira, uma hora da manhã, Pronto Socorro Central. Corredores cheios de almas aflitas, mas uma delas se sobressai: uma jovem.
Sentada numa cadeira de rodas de cabeça baixa, ela passa sob o olhar curioso dos pacientes que aguardam atendimento. O enfermeiro a deixa num canto do corredor e ela, como se já não tivesse alma, fica ali parada como se a vida já não habitasse em seu corpo. E de repente, um líquido cristalino escorre pela cadeira, ela já não tem controle de sua bexiga. O fato atrai mais olhares dos que ali estão e ouvem-se comentários aqui e ali dos demais.
Então, de longe com um olhar cansado, aparece uma mulher que avista sua filha. Ela se aproxima da jovem, pensando qual erro cometera com sua menina. Ao parar a sua frente, a mãe a fita por alguns segundos, um olhar carregado de compaixão, dor e raiva.
- O que você fez? – pergunta com tom ríspido enquanto tenta levantar a cabeça da filha.
Não há resposta, não há gemido, não há murmúrio da parte da menina.
- O que você fez? – insiste a mãe num tom baixo, aflito sabendo que a filha não a responderá. – Com quem você estava?
Mais uma vez, ausência de resposta e ao que se aparentava, ausência de vida.
O que teria acontecido com a jovem? Fora encontrada desmaiada no meio da rua, sozinha e bêbeda. Os amigos deixaram-na sozinha. Foram-se todos. Tudo o que lhe restara fora sua velha mãe para lhe dar banho, lhe por na cama e pela manhã, dar-lhe um remédio para dor de cabeça. Seus amigos não lavariam sua calça fedendo a urina e nem dariam banho nela. Provavelmente, eles fariam chacota com sua situação no dia seguinte.
A mãe a levou embora a passos lentos para cuidar dela, pois no final, tudo o que lhe restou foi sua mãe.

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